sábado, 2 de janeiro de 2021

A MALDADE OU A BONDADE MAQUIAVELIANA

 

“Nenhuma maldade deve se perpetuar no tempo, o bem, contudo, deve transcender ao infinito...” Eudasio Menezes

Diversas críticas pesam sobre Nicolau Maquiavel por entendimentos superficiais a respeito da frase constante na imagem acima. Contudo, quando estuamos amiúde O Príncipe e o contexto em que esta máxima é retratada na obra maquiaveliana, percebemos que o aforismo surge sempre esclarecendo uma situação, ou recomendando que sendo preciso cometer algum ato maldoso, que o príncipe ou o governante, não deve fazê-lo repetidas vezes, sob pena de atrair muitos inimigos e com isso tornar-se impossível que ele mantenha seu governo ou Principado, no caso retratado na obra.

Um exemplo claro podemos desta afirmação podemos encontrar no capítulo VIII do compêndio maquiaveliano - O Príncipe - no qual o filosofo florentino discorre a respeito dos que chegam ao Poder (principados ou governos) por meio do crime. Ou seja, aqueles que usam de meios e prática ilícitos para galgar ao poder. A priori é conveniente esclarecer que o autor condena com veemência quem por meio do assalto (tomada criminosa) ascende ao Poder.

Isto tanto é verdade que no capítulo usado como referência para a produção deste texto, ao narrar os meios usados pelo tirano Agatocles de Siracusa para ascender ao Poder, qual seja, traindo e assassinando concidadãos, aliados e parentes, Maquiavel afirmou categoricamente que neste tipo de conquista não há glória, virtude (virtú) ou fortuna senão vejamos:

"...não se pode, é verdade, chamar de virtude (virtú) matar os próprios concidadãos, trair os amigos, faltar a palavra dada, não ter piedade nem religião, procedimentos esses que talvez abram as portas do poder, mas não as da glória...". (O Príncipe Nicolau Maquiavel).

Na verdade, o que Maquiavel quer trazer a luz ao descrever as atrocidades de Agatocles para chegar ao Poder é que tal modo de ascensão violenta é também a causa de manutenção deste, já que tanta crueldade trará um forte impacto e medo não apenas nos povos conquistados, mas tende a inibir eventuais hostilidades de estrangeiros que pensem em invadir domínios sob o poder deste tipo de governante.

"...Ninguém ousou resisti-lhe, todos tiveram que o obedecer, constituindo um governo do qual ele se fez chefe, após matar a todos os que por estarem descontentes podiam prejudica-lo consolidou a sua autoridade criando novas leis civis e militares, assim durante o ano que governou, além de desfrutar da sua segurança na cidade de Fermo, passou a ser temido também por todos os seus vizinhos...". (O Príncipe Nicolau Maquiavel).

O filósofo florentino continua sua argumentação afirmando que parece estranho que em alguns casos outros homens que conquistaram o Poder de modo semelhante, ou seja, de forma criminosa e cruel tenham sido destituídos em pouco tempo, enquanto outros, conseguem se firmar por muitos anos, obtendo o apoio inclusive dos cidadãos que foram subjugados por ele no passado.

Nestes dois casos específicos, Maquiavel chega à conclusão “que aqueles que fazem o mal no ato da tomada do poder e depois que se estabelecem começam a praticar ações boas para seus governados, em pouco tempo caem nas graças destes que esquecem o mal contra eles praticado”, de sorte que o conquistador terá quando necessário, poderá inclusive contar com o apoio deles em sua defesa pessoal e do território contra eventuais invasores internos ou externos que vierem a se insurgir.

Por outro lado, aqueles que do crime e da maldade obtém o poder e continuam a pratica-los, mesmo depois da conquista terão menores chance de manter este poder por muito tempo, pois viverá constantemente rodeado de inimigos internos e externos que estarão sempre à espreita e na primeira oportunidade que tiverem, atacarão e destituirão o governante que sucumbirá ante as inevitáveis rebeliões território. Foi este o contexto que Maquiavel empregou ao dizer que "o mal se faz de uma vez, enquanto o bem dever feito devagar" senão vejamos:

"... Por mim creio ser isto consequência do bom ou mal emprego que se faz da crueldade. Quando bem empregadas pode se chamar, se é lícito dizer bem do mal que alguém pratica de uma vez só, por necessidade e por segurança sem nelas depois insistir, mais transformando-as o mais possível em proveito de súditos. Mal empregadas são as que embora numerosas no começo, se multiplicam ao invés de se extinguirem com o correr do tempo...daí infere-se que ao deitar a mão a um Estado deve o conquistador refletir nas ofensas (mau) que precisa fazer, e fazê-las todas de uma vez, para não ter que renova-las todos os dias e renovando-as não poder tranquilizar os cidadãos, bem como beneficia-los ganhando-os para sua causa..." (O Príncipe Nicolau Maquiavel)

Em síntese, por tudo que foi exposto eu afirmaria sem receios que não devemos praticar qualquer ato de maldade, mas se formos levados a praticá-lo, o façamos de uma só vez e não a conta-gotas, do contrário estaremos em constante conflitos com inimigos permanentes à nossa sombra, não apenas ansiando, mas trabalhando pela nossa destruição.

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