Napoleão Bonaparte após perder sua posição de imperador e ficar preso
na Ilha de Elba comentado a obra “O Príncipe” em nota de rodapé sobre os
Próceres afirmou: "... parece incrível não tenha eu previsto que estes
ambiciosos, sempre prontos a se anteciparem ao curso da fortuna, me abandonariam,
e, até, me entregariam ao inimigo, desde que eu caísse na adversidade...".
Conforme
narrativa de Nicolau Maquiavel em sua renomada obra “O Príncipe”, os principados
classificam-se em Hereditários quando governado por um príncipe herdeiro cuja aquisição
e transmissão tem por critério primário a linha sanguínea real, os Novos, que
dividem-se em Totalmente Novos e Mistos que são aqueles anexados ao Estado
hereditário do príncipe que os adquire. Quanto forma de aquisição o filósofo
destaca que os principados podem ser conquistados com armas (forças) de outros,
ou com as próprias armas, ou ainda por obra da virtude (virtú) e da fortuna
(sorte).
Mas
deixando de lado os demais tipos de Principados e suas formas de aquisição e
manutenção, debrucemo-nos sobre aquele ao qual Maquiavel convencionou chamar de
Principado Civil, o qual um cidadão comum pode chegar à condição de príncipe e
não pela violência, hereditariedade, mas sim pela vontade de seus concidadãos.
"...quando o cidadão se torna príncipe de sua pátria, não por
meio de crime ou outra intolerável violência, mas com a ajuda dos seus
compatriotas...”.
Exceto
por nosso atual sistema de votação, este principado ao meu sentir, até mesmo a
forma pela qual o príncipe chega ao poder no principado civil é o que mais se
aproxima do modelo republicano e democrático de governo, uma vez que o
governante chegar ao Poder através do apoio dos concidadãos, os quais Nicolau
Maquiavel classifica-os em duas castas, a saber, os Próceres (chefes,
influentes e magnatas) e o povo que é a maioria da população.
Pelas
características descritas pelo filósofo florentino, infere-se que os Próceres seriam
a casta rica da sociedade e, portanto, a classe opressora, enquanto o povo
seria maior parte da população constituindo-se como seguimento pobre e oprimido
da sociedade daquele período.
“... em qualquer cidade se encontra essas duas forças contrárias, uma
das quais provém de não desejar o povo dominado nem oprimido pelos grandes, e a
outra de quererem os grandes dominar e oprimir o povo. Destas duas tendências
opostas surge nas cidades, ou Principados, ou a liberdade, ou a
anarquia...".
É
exatamente nesta divisão de castas que o principado Civil se aproxima de nosso
sistema republicanos e democráticos de nossos dias. Isto porque até mesmo o
modus operandi usado para proclamar os príncipes equipara-se ao dos presidentes
das Repúblicas na maior parte do mundo contemporâneo, ou seja, o apoio popular.
“...o principado assim constituído podemo-lo chamar de civil, e para
alguém chegar a governa-lo não precisa de ter ou exclusivamente virtude (virtú)
ou exclusivamente fortuna, mais antes uma astúcia afortunada (...) a ajuda
nesse caso é prestada pelo povo ou pelos Próceres...”
Ainda
segundo os ensinamentos de Nicolau Maquiavel, em dados momentos da história, os
ricos percebendo não poder enfrentar o povo, escolhem um nome dentre eles que
será o príncipe, dando-lhes falsa impressão de que o povo estará no poder
(neste momento lembrei da eleição de Lula) quando de fato este príncipe será um
fantoche que servirá apenas para dar guarida a ganância insaciável destes
magnatas.
"...quem chega à condição de príncipe com o auxílio de
magnatas, conserva-se com maiores dificuldades do que quem chega com o auxílio
do vulgo, porque no seu cargo está rodeado de muitos que se julgam de sua
iguala..."
De
modo semelhante (e com maior frequência na atualidade) ocorre em relação ao
povo, que percebendo não ter forças suficiente para enfrentar e derrotar os
magnatas, sob as falsas promessas de segurança, escolhem um deles para ser
Príncipe, contudo, em pouco tempo tal esperança dar margem à decepções e incertezas
por não verem concretizadas suas expectativas, contudo, a falta de organização
e força popular, colabora para que o governante deste tipo de estado não tenha
maiores problemas em relação ao povo. Bastando a ele atender umas poucas
demandas. Senão vejamos:
"...aquele, porém, que sobe ao Poder com o favor popular, não
encontra em torno de si ninguém ou quase ninguém que não esteja disposto a
obedecê-lo. Demais, não se pode honestamente satisfazer os poderosos sem lesar
os outros, pode fazer isso em relação…”
Do
exposto, conclui-se, portanto, que o dualismo político e de classes sempre
existiu e sempre existirá, e mais, que os discursos atuais de que vivemos em um
mundo / país / estado / cidade divididos, nada mais é do que um álibi dos
ganhadores para justificar sua incompetência e inoperância, e um argumento
pífio dos perdedores para não terem que arcar com as responsabilidades de sua
falta de credibilidade para conseguir ganhar uma disputa eleitoral.
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